sexta-feira, março 04, 2005

No Circo Glaciar de Gredos (I)

26 de Fevereiro de 2005

Um Mar de Espuma Branca!


Mês e meio depois de Sanabria, os Amigos realizavam nova incursão em terras castelhanas. Desta vez na ampla serra de Gredos, o tecto do Maciço Central Ibérico, cuja cúpula do seu Circo Glaciar alcança os 2592 metros.

Ainda o Sábado fazia a sua estreia (01.00 h.) e já 19 Amigos partiam rumo a este maciço montanhoso para aí realizarem diversas actividades de carácter invernal. Assim que os veículos se insinuaram no relevo destes imponentes domínios, e já o sol irradiava pujante na linha do horizonte, pudemos apercebermo-nos de novo que este maçico, com os seus longos 140 km de extensão, moldava todo o modus vivendus dos povoados e das comunidades por aquelas paragens. A montanha persistia como a matriz vital e dominante, arreigada a todas as realidades e aparências com que nos deparávamos à passagem.

O terreno de acção seria o Maciço Central, concretamente o paradigmático Circo Glaciar de Gredos onde decorreria a derradeira componente do Curso de Técnicas Invernais, orientado pelo alpinista João Garcia, com a participação de 12 Amigos/formandos. Em paralelo com o Curso, outros sete elementos dos Amigos realizariam actividades de idêntica índole invernal.

E não há fome que não dê em fartura! Da escasssez de neve sentida em Trevinca passou-se para o seu relativo excesso em Gredos! Um autêntivo mar de neve! E não só, pois o glacial frio e a humidade insuflava-se acerbo nos nossos corpos.

Aclimatámo-nos um pouco à ambiência serrana na méson La Bodeguilla, em Hoyos Del Espino, habitué ponto de encontro de montanheiros e não só. Já lá estava o João Garcia e o Hélder (Santos) a bebericarem um chá e umas torradas amanteigadas, que fizemos questão de os acompanhar.

Últimos preparativos e cerca das 11.00 horas o grupo partia a pé, da Plataforma de Gredos, em direcção ao Circo Glaciar, sob a orientação do João. Até ao Prado de las Pozas cruzávamos o rotineiro magote de excursionistas/turistas passeando pelo caminho limpo de neve e desfrutando animadamente das brincadeiras na neve deles. Ao chegarmos à Ponte de Las Pozas, o João teceu algumas considerações úteis para a prossecução da jornada.

Prosseguimos pela vertente acima, acentuando-se o declive assim como a espessura da neve, demasiado fofa. A cabeça do grupo alternava para compartir o esforço de abrir passagem na neve, e à medida que subíamos a temperatura por sua vez descia e o vento gélido e seco acentuava-se. De tempos a tempos passavam por nós esquiadores que imprimiam forte ritmo à sua deslocação, deslizando airosamente.

Almoçámos já no início da descida, junto do painel informativo do Circo Glaciar, mais abrigado das rigorosas condições envolventes.

Retomámos o curso semi-trilhado na neve pela periódica passagem dos inúmeros montanheiros. À medida que nos aproximávamos do coração do circo glaciar o trilho descia a encosta na direcção do sopé do vale glaciar, onde a Laguna Grande de Gredos hibernava, oculta sob uma espessa capa de gelo, forrada pela neve macia. Caminhámos por cima da Laguna bem tranquilos quanto à solidez do solo que calcávamos.

A fila indiana dos 21 papa-léguas prosseguia, por vezes alongando-se à passagem de um ou outro obstáculo, e comprimindo-se de presto como uma harmónica. Ao longe já se avistava o refúgio mais insigne de Gredos, o Elola (1970 m.). Tal maciço granítico que apenas se distinguia dos restantes rochedos, que brotavam do manto branco, pelas suas rectilíneas linhas que resistiam a serem dobradas e erodidas pelo agreste clima e meio envolvente. A certa altura ínfimos fiapos de neve começaram a cair pachorrentamente diante de nossa retina. Tão ínfimos que nem os sentíamos a depositar-se recatadamente em nós.

Nas imediações do refúgio cursámos para leste até o local, por cima da neve, onde seria montado o acampamento base. Depositámos as mochilas e logo começámos a pisar e repisar a neve (uma espécie de pisa das uvas na vindima) com o intuito de se formar uma base mais sólida para se montarem as tendas. Colocámos resguardos do frio entre a neve e base da tenda e recorremos aos piolets e estacas para fixar as espias das tendas na densa neve.

Em nosso redor continuavam a cair fiapinhos de neve...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o que eu estava procurando, obrigado

1:31 da manhã  

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