sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Tocando a ausência da primazia hUMANA..


Foi recentemente lançado no mercado português de vídeo (DVD) o filme/documentário “Touching the Void” de Kevin Macdonald, tendo como intérpretes, com mais destaque, Joe Simpson, Simon Yates e Richard Hawking, que se incarnam a si próprios.

O filme/documentário britânico estreou nos cinemas ingleses em Outubro ou Novembro de 2003, e depois em Janeiro de 2004 nos EUA. Em Abril foi lançado (USA e UK) em DVD, e (por artes mágicas!) em finais de Maio de 2004 estreou cá e em pouco cinemas (apenas um no norte do nosso país). Agora foi lançado em DVD em Portugal, que adquiri. Também (e só agora) encomendei a versão inglesa, aqui. A minha indisponibilidade de tempo condicionou este atraso. Vou tentar em breve adquirir o livro homónimo, em inglês, pois ainda não foi traduzido para português luso (só brasileiro).

Ambos os DVD para além do filme/documentário incluem dois outros documentários “Regresso a Siula Grande” e “O que Aconteceu Depois”, para além de outros pequenos extras, que nos ajudam a contextualizar e entender melhor o filme/documentário.

O filme/documentário ao ser galardoado com o BAFTA 2004 na categoria de Melhor Filme alcançou um pronunciado estatuto no universo do cinema, e foi pioneiro no facto de um misto de filme e documentário arrecadar nos BAFTA tal prémio.

Na altura visionei o filme num cinema do Arrábida e escrevi umas breves notas para o Cinema2000, que transcrevo :

“Um misto de documentário e filme propriamente dito, tem múltiplas leituras que extravasam a esfera montanhista ( andeísta neste caso...)

o que reti das ideias do filme em 2 a 3 pinceladas:

- a sobrevivência é o maior dos instintos humanos, mesmo no limiar desta : privação de comida, água, sono, e porventura o + importante... (!!), o Homem intenta sobreviver em busca de uma mudança positiva de contexto. Não o faz numa base totalmente irracional, mas possui mecanismos intrínsecos, dotados de alguma racionalidade que o fazem direccionar a pequenos objectivos temporais que potenciarão o propósito global. Os limites da resistência física e mental são redimensionados a todo o momento.

- o filme imortaliza-se justamente quando a câmara nos projecta as sensações decorrentes do estado ascético em que Simpson imerge, numa multiplicidade de técnicas e planos de filmagem

- há certas vias de certas montanha que só com a conjugação de certos factores favoráveis (clima, neve, ventos,...) são permissíveis de escalar...
não!... nem Messners, Buhls, Bonnatis,....

- Joe Simpson teve afoiteza de escrever um livro sobre um episódio em que a actuação do seu colega foi envolta em alguma polémica e que ainda, na óptica de alguns fundamentalistas, a sua (Simon) responsabilidade nos terríficos desenvolvimentos não pode ser totalmente descartada.

- recordou-me a (leitura da) expedição de 1977 ao Ogre, com Bonington, Doug Scott, Estecort e outros em que Scott com as duas pernas partidas, rastejou cerca de 5 km montanha abaixo pelo glaciar e moreia

- Subir foi possível, até relativamente acessível, a descida foi aos infernos

- como dizia Murphy, quando tudo parece correr bem, há sempre algo que...”



Só queria acrescentar, passado quase um ano, que o que retenho particularmente deste filme/documentário é sobretudo o carácter humilde e de sensata contemporização que o Homem deve adoptar, e sempre, no contacto com alta (e mesmo média) montanha. E mesmo assim ela enche-nos mais a alma, do que ao invés...