segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Por Terras de Sanabria (VI)

16 de Janeiro de 2005

Uns banhos-de-sol antes do célere regresso.

Os primeiros elementos, nos quais eu me incluía, a pisarmos terrenos mais rasos, dirigiram-se de pronto para o acampamento. Retornávamos à cércea e efémera terra, cravávamos de novo as botas na barrenta argila de que afinal somos feitos, transitórios seres entre o ser e o devir.

Percorríamos o vale de Lacillo, cada vez refulgente e acalentado pela luminosidade solar, espreitando ainda por cima dos nossos ombros as engenhosas manobras dos remanescentes Amigos na descensão do corredor. A progressiva distância distorcia as escalas de grandeza. A ilusão visual de seres liliputianos movendo-se compassadamente, em câmara retardada, na titânica encosta i(r)manava-nos a atenção. De novo se evidenciava na nossa frente que a distância, separação do concreto, do acto em si, elide os obstáculos e as contrariedades da progressão. E a progressão de um montanhista faz-se no essencial do contacto afoito e instintivo com a áspera rocha, o encrespado e bravio matagal, e o envolvente elemento aquoso dissimulado sobre diversas formas : água, gelo, neve, orvalho, neblina, nevoeiro,…

Na verdade a descida, sobretudo em rappel, tinha sido vertiginosa, sempre a abrir por ali abaixo! Até daria para assar gambozinos nas sobreaquecidas cordas! Mas ao longe tudo parecia tão cadenciado e vagaroso. Um aprazível e plácido quadro de montanha. Tal como o perfeito anel solar camuflava as siderais explosões energéticas que nele se sucediam incessantes.

Entretanto já no acampamento base o Cadinha tinha escancarado as tendas para as ventilar com outros ares. Pouco passava do meio-dia (luso) e o Sol alcançava o seu pináculo, acalorando os corpos dos Amigos entretanto distendidos sob a viçosa erva, com as transpiradas vestimentas dispersas à sua volta. Tal como guerreiros libertos das armaduras no final de mais uma batalha. Aproveitava-se para merendar das últimas sobras de mantimentos e mandar, em tom de gracejo, umas espirituosas bocas às performances uns dos outros durante a manhã.

O último grupo chegou ao acampamento e pouco depois começou-se a desmontar o circo e a meter de novo a casa às costas para regressar à Laguna dos Peces.

E cumpriu-se a tradição: os primeiros seriam os últimos! Parti assim no último grupo, com o Smith, que ainda esquadrinhou a fundo o campo-base no encalço de algo supostamente esquecido, a fechar o cortejo.

O ritmo imprimido no regresso foi acentuado, e pesa sempre nas costas a longa subida desde a represa de Vega do Conde até à Laguna Ventosa. A meio deste reconsiderei que deveria ter-me nutrido um pouco melhor antes da partida do ´campo base´, pois senti necessidade de ingerir alimentos sólidos a meio da encosta. Os grupos foram-se reunindo ao longo do percurso e cerca das 18 horas (lusas) o magote geral chegava junto das carrinhas, cercadas por turistas, excursionistas, senderistas e outros demais enamorados de la naturaleza.

Prontamente, houve um ataque geral às mochilas que lá restarem de propósito. Algumas pejadas de gulodices e lambarices, intermeadas de bebidas para melhor escorreito dos sólidos. Justo troféu da bem sucedida excursão. O prazer de trocar a roupa humedecido por outra mais fresca e bem engomadinha não foi de menor monta.

Na volta vim na outra carrinha, bem mais confortável, guiada pelo Kata. Tal não obstou que as mistelas por mim antes enfrascadas me levassem a virar o barco (fora da carrinha, efectivamente), já relativamente perto da fronteira. Como bónus passei para o banco dianteiro, com troca com o Smith, e com vistas favorecidas para as transeuntes lá de fora. Para desenfastiar por completo bebi umas Pedras num café em Montalegre, onde parámos para aliviarmos a bexiga e atestarmos os corpos para o resto da viagem.

Por volta das 21 horas a nossa carrinha chegava à sede, seguidos uma dezena de minutos depois pela outra carrinha.

Um fim-de-semana bem nos píncaros!

Sem dúvida, Sanabria es!!