quarta-feira, janeiro 19, 2005

Por Terras de Sanabria (I)

15 de Janeiro de 2005

Uma longa e promissora manhã...


No terceiro fim-de-semana de Janeiro, os ´Amigos da Montanha´ tinham programado uma actividade de Inverno no Parque Natural de Sanabria...


Cheguei à sede no rematar do noticiário da TSF das 5.30 h. Apesar dos intensos preparativos os diálogos faziam-se em surdina, imprimindo ao ambiente um silêncio expectante dos momentos vindouros. No meu sub-grupo (eu, o Daniel e o Cadinha) repartimos as partes da tenda, do fogão e botijas e assinei a respectiva folha de requisição deste material. Alguns Amigos requisitavam também material de escalada, piolets, arnezes,.. No meu caso prefiro levar o meu próprio material pois já lhe conheço melhor as ´manhas´ .
Foi-se metendo tudo nas duas carrinhas (inclusive correntes para a neve) e por volta das 6 horas zarparam 14 ´amigos´. Na minha carrinha, mais pequena, guiada pelo Zé Carlos… Araújo (pois nos ´amigos´ há, só, 5 Zés Carlos!) perfazia um sexteto. O trilho rodoviário cruzava Montalegre, onde paramos para um coffe break e depois seguimos em Espanha pela A52 até Puebla (de Sanabria). Subímos o curso do rio Tera, rumo ao Parque Natural, passando a turística El Puente. Ribadelago inscrito nas placas recordou-me de novo a tragédia ocorrida há 46 anos e alguns dias atrás.
Circundamos pela direita do extenso lago de Sanabria para alcançar a alcantilada San Martin de Castañeda, onde o milenar mosteiro beneditino mira em contemplação/meditação o azul celeste das águas do lago e do céu ali tão perto. O admirável Centro de Interpretação do Parque na abadia ainda estava encerrado e continuámos em direcção à laguna dos Peces. O pessoal sedento de ver neve aos molhos arregalava os olhos, mas as expectativas já eram limitadas. Mesmo assim Sanabria nunca defraudava os montanhistas e havia qb da branquinha. O frio apertava à medida que a altitude crescia. Chegámos à laguna dos Peces que se encontrava naturalmente gelada. Aliás tudo estava gelado: as linhas de água, a vegetação, o solo, o próprio ar…
Últimos câmbios: calçar as botas, vestir roupa mais quente, check-up ao material e lá fomos nós rumo ao Embalse de Vega do Conde, no vale do Tera. No início sobe-se até à laguna Ventosa (1858 m). Nas vertentes úmbrias (mais viradas a norte e nordeste) a neve era bastante frequente e a progressão torna-se mais árdua, intentando-se pisar em vez o húmido e deveras lamacento solo, pois na neve as pernas enterram-se de modo imprevisto. Por sua vez o gelo, para originar um ´bate-cu´ é certeiro! E a passagem dos rios gelados é por vezes um bico-de-obra. Mas não só de lama, neve e gelo vive o homem. também o vento vem dar uma forcinha... ou um travãozinho. E uma área mais exposta ao vento pode descer a temperatura a pique e obriga a trocar ou vestir mais uma peça.
Um grau positivo, acompanhado do habitual gélido vento, alcunhador da laguna (Ventosa), imprimiam às fácies um tom mais rígido, mas sempre deu pra rir um pouco quando o Paixão se apercebeu, já lá ia cerca de meia hora de caminho que lhe tinham posto umas pedras dentro do capacete, por sua vez atado à mochila. “Então um homem como tu que faz sequências de 130 kilos de supino e tás preocupado com uns calhauzinhos?” soltou um do grupo. O Paixão nem levou a mal, mas não deixou de matutar quem lhe pregara tal partida.
Seguimos então rumo ao embalse com o nosso guia, o Kata liderar o grupo, com forte ritmo para aquecer. As botas novas não se estavam a sair mal e lá quentinhas eram elas! Ao longe avistava-se a piramidal Trevinca e uns quilómetros adiante vislumbrou-se o embalse de Vega do Conde com a superfície em gelo. Já lá em baixo parámos para almoçar junto às ruínas de uma casita perto. O tempo aquecera um pouco...