Na Serra da Estrela (I)
Um primaveril fim-de-semana de Fevereiro.
No dia 8 de Janeiro o curso tivera a sua ante-estreia com uma componente téorico-prática que se revelou muito proveitosa e cerca de um mês depois, dia 10 de Fevereiro, o João expusera na sede dos Amigos, e de forma bastante minuciosa, as múltiplas matérias fundamentais na prática alpina. Discorrera desde as inúmeras condições do relevo e modelado geográfico/geológico, aos factores climatéricos e meteorológicos (temperatura, precipitação, pressão, humidade), até às imbricadas formações glaciares. Prestara também devido atenção ao equipamento e ao vestuário, bem como às diversas técnicas de progressão segura em terreno nevado, quer encordado quer desencordado, e ainda às imprevisíveis situações de queda e auto-detenção.
O João repisara sempre a asserção que antes do Material vinha a Técnica e antes desta ainda se posicionava a Estratégia, pese embora todos estes elementos serem imprescindíveis, obviamente.
Em cada exposição, auxiliado por diapositivos, o João socorria-se de uma situação por ele experimentada nas montanhas por esse mundo fora: Alpes, Himalaias, Andes,… e mesmo nas nossas belas serras. Pretendia transmitir-nos, o mais fidedigno possível, as sensações e impressões vividas in loco, para nos inteirarmos melhor de um dada técnica ou estratégia de progressão, num dado terreno de acção.
Dois dias depois o dito terreno de acção seria a Serra da Estrela, onde o João com o Hélder Santos nos esperavam num dos extremos de Covão da Ametade. Os Amigos partiram da sede, em Barcelinhos, por volta das 5.30 h. e cerca das 10.00 h arribavam ao local de encontro. O tempo estava primaveril, com o Sol a despontar por entre as fragas e a frondosa vegetação. De presto todos se aprontaram para a subida pela via leste do Cântaro Magro desde o Covão.
A primeira parte foi feita desencordada e assim que o declive se tornou mais pronunciado, o João dividiu o grupo em três cordadas. A primeira cordada era guiada pelo próprio João, seguido do Marco, do Cadinha, de mim e a fechar o Valdemar. A segunda cordada era guiada pelo Hélder, seguido do Daniel, do Augusto, do Loureiro, do Abílio e do José Carlos Araújo a fechar. A cordada derradeira era encabeçada pelo Peixoto, seguida do Zacarias, do Zé de Braga, do Sá e fechar o Kata, que ia recolhendo o material, colocado bem lá à frente pelo João Garcia. O Abílio, o Augusto e o Valdemar tinham ascendido, no Verão passado, ao Elbrus com o João Garcia, o Kata e o Peixoto.
Alpinisticamente falando, apesar da via não ser complicada, existiram situações que concorreram, pelos menos para os menos calejados nestas lides como eu, para que a passagem de certos obstáculos se tornasse algo mais complicada. A primeira revelou-se sem dúvida a combinação entre a extensão da via com o facto de cordadas com mais de 3, 4 elementos ampliarem consideravelmente o tempo de progressão na mesma. Outro aspecto influente foi a profusa presença do gelo, muitas vezes encoberta por uma fina camada de neve muito volúvel. No meu caso pode ser adicionado a escolha das botas menos adequadas (rígidas em vez de semi-rígidas). Na Fórmula 1 ainda se pode ir à box trocar a borracha conforme as condições atmosféricas, mas ali na encosta com a persistente escassez de neve, aquela borracha dura não emparceirava muito bem com a rocha e gelo, e por vezes resvala-se um pouco. E no meu caso o pontual apoio verbal dado pelo Hélder e pelo Daniel, que seguiam atrás de mim foi bem-vindo.
Parámos para almoçar num ponto onde a via bifurcava, cognominando-a de Y. Enveredámos pelo trilho da direita (a vermelho no mapa). Pouco depois a passagem da designada Chaminé, com a mochila às costas prendeu-nos ali um tempo excedentário. Ao longo do percurso destacava-se a contagiante boa disposição do João Garcia, que soltava pregões bem-humorados de tempos a tempos, resultando num bom chamariz para motivar a subida das pendentes mais íngremes. Nos intervalos destes clamores, o João fornecia orientações para optimizar a ascensão da longa centopeia ao longo da via.
Chegámos ao topo do Cântaro pouco tempo antes de começar a escurecer e a descensão fez-se a butes por ali a baixo, sempre encordados até à estrada de asfalto. Já se encontrava nesta o Tozé, que tinha sido contactado para dar boleia ao Kata e ao José Carlos Araújo, para por sua vez estes irem buscar as carrinhas ao Covão, para levar o grupo de regresso ao acampamento base .
Enquanto se esperou pelas carrinhas o João aproveitou para referir, o que do seu ponto de vista, tinha corrido melhor e menos bem durante a ascensão e sublinhar de novo alguns pontos que ele achava importante. Pouco depois os veículos chegavam e lá se trilhou o asfalto até ao Covão.
No Covão montaram-se as tendas (na minha fiquei eu, o Daniel e Cadinha), mudou-se de roupas e por volta das 20 horas partimos para Manteigas rumo ao típico restaurante Zé Batata, escolhido pelo João Garcia, cliente fiel do mesmo há mais de 20 anos. Uns comeram Feijoca (feijoada – coitados dos companheiros de tenda!), outros bife e costeleta assada, cabrito, e os restantes ficaram-se, como eu, pela Chanfana, uma saborosa carne de borrego, entremeada por batatas assadas. O vinho eleito foi o da Casa, um maduro Ribatejano, bem carnudo e encorpado, mas ao mesmo tempo fresco e macio. Como sobremesa havia requeijão com doce, frutas, gelado em taça, mousse,… Mas o melhor sobrepasto de todos ainda estava reservado para as 21.30h quando todos os sentidos se concentraram para o jogo entre o Braga-Benfica, com as claques respectivas a posicionarem-se estrategicamente em frente do televisor. O jogo foi seguido com grande entusiasmo e no final o empate soubera a pouco, não fora os estômagos já estarem bem aviados.
Regressou-se ao Covão e o cansaço do dia encarregou-se de aconchegar todos nos respectivos leitos, ali bem juntinhos ao do Zêzere.
2 Comments:
Tá excelente.
Dá vontade de participar...Mas NÃO gosto de alpinismo..é pena!
fp-24/2
olá...
o nosso grupo tb vai fazer a subida ao cantaro magro...podes-me indicar onde posso arranjar algum croqui para efectuar a subida??????
www.gmtorre.blogspot.com
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