terça-feira, março 29, 2005

Pelas bucólicas Terras do Barroso… (II)


19 de Março de 2005





À medida que deixávamos a albufeira para trás, o declive acentuava-se e a luminosidade escapava-se na direcção do remoto oceano. Atravessou-se a aldeia do Outeiro e prosseguiu-se por trilhos que bordejavam os designados Prados de Lima onde a retalhada estrutura fundiária, separado nos socalcos por muros de pedras, é irrigada pelo sistema de água lima praticada há tanto tempo que o próprio tempo esqueceu.

Já se começava a vislumbrar na linha do horizonte Pitões das Júnias e a contígua capela de S. João da Fraga, equilibrando-se vigorosa no granítico monólito. No cursar das abundantes pastagens presenciava-se o nobre figurino da raça bovina barrosã que assume por estas paragens uma crucial valência económica, apossando-se das melhores parcelas. O que sobra destas é ocupado pelas sementeiras, numa agricultura de subsistência, confinada de sobremaneira à batata e ao centeio, intercalados com longos pousios. À arborização, traduzida nos castanheiros, vidoeiros, choupos ou carvalhos, resta o quinhão de terra indispensável ao provimento de madeira e lenha para a casa e mesteres agrícolas.

Chegou-se a Pitões das Júnias (a 1100 metros de altitude) à 19.15 h, já na intensa escuridão se ecoava o pretenso silêncio e a serenidade destes singulares lugarejos. Neste povoado ainda está bem presente o coeso comunitarismo agro-pastoril, manifesto através do forno do povo ou do boi do povo, em forte contraste com a aparência de mudança do burgo que lhe conferem os seus emigrantes, com as suas orgulhosas e desmedidas moradias. Aparentemente nos antípodas das graníticas casas de cobertura de colmo que ainda subsistem no Barroso mais rústico.

Ao fundo repousava o milenar Convento de Santa Maria de Júnias, ou o que resta dele, esquecido pelo tempo e pelos homens que o erigiram.

Já com o Loureiro e o Paixão acrescidos ao grupo montou-se acampamento base cerca de 3 km a nordeste de Pitões, no lugar de Veiga a Grande, bem abastecidos de água para confeccionar as iguarias, na Fonte do Quartilho ali próxima. O aparelhómetro indicava quase 23 km palmilhados desde a saída de Paradela.