terça-feira, dezembro 05, 2006

Yuka Komatsu: uma alpinista gigante com apenas 1,55 m.

Aos 23 anos a japonesa, Yuka Komatsu (com apenas 1,55 m) alcança o seu primeiro oito mil. Esse oito mil foi o K2 (em 1/08/006).

Yuka Komatsu, nasceu em 1982, em Akita (a última cidade do mundo a ser bombardeada durante a IIª Guerra Mundial), no norte do Japão, no seio de uma família com poucos recursos.

Para poder financiar os seus estudos universitários, em Tóquio, viu-se forçada a acumular um trabalho em part-time. Arranjou-o numa loja em Tóquio da maior cadeia de vendas de produtos de alpinismo, o que a levou interessar-se pela modalidade, apesar do escasso tempo disponível para poder praticar.

Começou em 2001 a praticar escalada (rocha e gelo). Em 2004, sem nunca antes ter postos os pés nas grandes cordilheiras asiáticas, liderou uma equipe japonesa às montanhas Karakonglong, na Cordilheira dos Pamires, alcançando então um cume de 6300m. Entretanto concluiu o seu curso universitário em Março de 2005. Partiu logo de seguida para o Tibete pois conseguira ser incluída como membro da Expedição de Amizade Japão-China, na subida ao Everest. Contudo quando chegou ao Campo Base, soube que a equipa que faria o cume já tinha sido escolhida. Esta notícia revelou-se uma tremenda frustração para Komatsu.

Regressou ao Japão e logo endividou esforços de integrar uma expedição ao K2, em 2006, organizada por um grupo da sua Universidade (Tokai, uma das mais reputadas do Japão). Como Komatsu não conseguiu obter qualquer patrocínio que a ajudasse a financiar os custos, teve de acumular três trabalhos, por dia, para arranjar dinheiro suficiente, para ser admitida na expedição. A admissão na expedição teve em conta o currículo e exames físicos.

Esta expedição, composta por 11 elementos, e liderada por Yoshitsugu Deriha, um experiente alpinista, com 48 anos, englobava 4 alpinistas com menos de 24 anos (Tatsuya Aoki [21 anos], Satosho Nomura [21 anos], Takumi Okano [22 anos], e Yuka Komatsu [23 anos]).

Já durante a expedição, partiram da Campo Base, rumo ao Cume apenas três elementos (Tatsuya Aoki, Yuka Komatsu e Shodo Kuramoto a liderar). Pouco tempo depois, Shodo Kuramoto, sofreu uma apendicite e teve de ser evacuado de emergência. Os dois elementos restantes tiveram que subir sozinhos.

Yuka Komatsu (23 anos) e Tatsuya Aoki (21 anos), durante conferência de imprensa local (fonte da foto)

Komatsu ascendeu com seu colega, Tatsuya Aoki, pelo esporão SSE, também conhecida como via Cesen, ou via basca. Como foram a única expedição este ano a subir por essa via tiveram trabalho acrescido. A equipa usou oxigénio artificial apenas a partir do Campo C3, mas a verdade é que este esgotou-se pouco depois de chegarem ao cume, já quase de noite. Pouco tempo depois a energia das pilhas dos frontais acabou-se e eles viram-se forçados a bivacar a 8200 m (e sem recurso a oxigénio artificial), perto de um local onde 2 semanas antes uma avalanche matara 4 experientes alpinistas russos. Demoraram ainda mais dois dias a chegar ao Campo Base (BC).
O habitual sentido de elevada estima japonês está bem patente no facto de o site oficial da expedição apresentar os 'sherpas' paquistaneses que ajudaram ao sucesso da expedição. O site possui também uma bela galeria de fotos.

Yuka Komatsu tornou-se a 8ª mulher no K2 e a 1ª de nacionalidade japonesa. Por seu lado, Tatsuya Aoki, com 21 anos tornou-se assim a pessoa mais jovem a alcançar o cume do K2 (e tem um promissor futuro pela frente).

Foto captada na ascensão, junto ao C2 (fonte)

Porventura o mais surpreendente é que Komatsu declarou à imprensa que esta seria provavelmente a sua primeira e última montanha de oito mil metros, pois dificilmente voltaria a arranjar dinheiro suficiente para nova expedição. Komatsu tem assim, no horizonte próximo, escalar montanhas, isentas de taxas, como o Fitzroy, na Patagónia argentina, ou a face oeste do Dru, nos Alpes. No momento Komatsu trabalha de nova na loja de produtos de alpinismo em Tóquio, até porque ainda lhe falta pagar parte da expedição ao K2.

Até ao passado mês de Julho apenas 6 mulheres tinham escalado o K2 : Wanda Rutkiewicz (1ª), Liliane Barrard, e Julie Tullis em 1986 ; Chantal Maudit (1992) ; Alison Hargreaves (1995); Edurne Pasaban (2004). Tragicamente todas já faleceram em acidentes na montanha (três durante a descida do K2), com excepção da excelente alpinista basca Pasaban. Pasaban tem oito montanhas de mais de 8 mil metros no currículo (incluindo o Everest [apenas com 27 anos], o Lhotse, e claro o K2), tal como a mítica polaca Wanda Rutkiewicz. Este ano esteve no Shisha Pangma, tal como a expedição portuguesa liderada por João Garcia, a tentar superar esse recorde, mas acabou por desistir, justificando más condições climatéricas.

Komatsu não foi a 7ª mulher no K2, mas sim a 8ª pois seis dias antes de chegar ao cume, já a italiana Nives Meroi, o lograra, a 26 de Julho de 2006. Meroi realizou a ascensão com seu marido Romano Benet sem recurso a oxigénio artificial (como sempre o fazem) pelo esporão Abruzzi. Esta expedição foi uma das melhores entre as melhores expedições deste ano nos Himalaias-Karakoram. Nives já tentara ascender ao K2 em 1994 e em 2003. Este ano para se aclimatarem já tinham ascendido ao Dhaulagiri em 17 de Maio. Tentaram depois o Annapurna mas não conseguiram. o K2 foi o oitavo 8 mil de Meroi (sem contar com o cume central do Shisha Pangma que já ascendeu). Em 2003 fez 3 cumes de uma assentada, e em apenas 20 dias (GI, GII e o Broad Peak). Já tinha ascendido em anos anteriores ao Nanga Parbat, Cho Oyu, Lhotse

O recorde ascensões a montanhas de 8 mil metros pertence na actualidade à austríaca Gerlinde Kaltenbrunner com nove ascensões, todas sem recurso a oxigénio artificial. Gerlinde afigura-se a maior alpinista da actualidade, e porventura de sempre (mesmo de Wanda Rutkiewicz). Nos últimos 3 anos ascendeu a seis montanhas de 8 mil metros (apesar de só ter atingido os 8400 metros no Lhotse). Em 2004, com diferença de menos de um mês fez o G1 e o Annapurna (o 8 mil com maior % de mortes). Em 2005 fez o Shisha Pangma em 7 Maio, depois tentou fazer de seguida o Everest (mas restou nos 7650 m) e em 21 de Julho fez o GII. Em 2006 fez em 14 de Maio o Kanchenjunga e em 24 de Maio ficou-se pelos 8400m no Lhotse. Desde 1998 já ascendera ao Cho Oyo, Makulu, Manaslu e Nanga Parbat. Também já atingiu um dos cumes (8027 m) do Broad Peak e o cume central do Shisha Pangma. Regra geral segue as vias mais difíceis.

Comparativamente a Gerlinde a basca Pasaban recorre ao oxigénio artifical e prefere as vias mais acessíveis, mas também já ascendeu ao K2, Everest, e ao Lhotse (tudo cumes que Gerlinde ainda não atingiu, ao invés já ascendeu ao Kanchenjunga). Contudo, este ano Pasaban não granjeou nenhum cume de 8 mil ao invés de Gerlinde, que passou assim a ser a recordista. No meio surge Meroi com 2 dos mais difíceis cumes: K2 e Lhotse, e sempre ser recurso ao oxigénio artificial.