domingo, dezembro 03, 2006

1 000 000 de carvalhos para a Serra da Estrela: um projecto a louvar e participar.

(este post foge um pouco ao âmbito deste blogue e como tal protelei-o, mas acho que a obrigação falou mais alto. Este blogue também presta a devida atenção às 'coisas' do nosso país.)

A generalidade das áreas naturais do nosso país tem visto desde há muito tempo (sobretudo depois do início da implantação do eucaliptal no 3º quartel do século XIX em Portugal) as suas espécies arbóreas autóctones diminuírem acentuadamente, tendo em certas áreas desaparecido mesmo. As causas são sobretudo de ordem humana: as politicas de planeamento (ou falta delas), o desconhecimento dos solos e respectivos ecossistemas, os diversos interesses, o almejar do lucro mais fácil,… Contudo não se pode olvidar os factores de ordem natural (incêndios, secas, enxurradas, etc.) que fustigam muitos espaços naturais, e que nos últimos anos/décadas foram consideravelmente acentuados. Se bem que esses factores de ordem natural são muitas vezes induzidos pela nefasta ou negligente acção humana.

Um dos casos mais salientes desta marcada redução das espécies autóctones ocorre na Serra da Estrela. E nos últimos anos os sucessivos e extensos incêndios que lá se sucedem têm agravado esta situação. Para contrariar este fenómeno a associação "Amigos da Serra da Estrela" (ASE) promove um projecto "Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela", que visa a plantação de maior número de espécies de carvalho-negral (Quercus pyrenaica), de modo a “reflorestar” esta Parque Natural. O carvalho negral é uma espécie autóctone da Serra da Estrela, tendo sido até meados do século XX muito frequente, mas que progressivamente se tem vindo a tornar residual, face à implantação de outras espécies como o eucalipto ou o pinheiro, que a curto (e médio) prazo assumem maior rentabilidade económica.

Com isto não defendo que na Serra da Estrela apenas pululem Carvalhos-negrais, também devem existir, com muita conta, peso e medida outras espécies de árvores, mesmo as atrás referidas (eucalipto e pinheiro). Estudos e respectivas conclusões não faltam, agora o que interessa é que a distribuição arbórea no Parque tenha-os em conta, e que pense mais (do que se pensou até agora) nos benefícios (e desvantagens) a longo prazo.

Como é referido no Naturlink “o Carvalho-negral é uma árvore que se adapta facilmente a encostas de montanha, com preferência por altitudes entre os 400 e 1500 metros, às vezes até maior altitude, suportando bem os frios e as neves de inverno. Ocorre bem em solos siliciosos, puros ou com argila, como os graníticos ou xistosos e suporta mal os solos básicos.”

A ASE coordena um programa por ela estabelecido, que define algumas etapas neste processo: definição de áreas a reflorestar, recolha de sementes e posterior sementeira ou plantação. No website do projecto está disponível um formulário para as escolas e outras identidades se inscreverem nas actividades, no mês que lhes convêm.

Inúmeras escolas (dos vários ciclos), sobretudo da região, têm vindo a participar neste projecto, inclusive além-fronteiras, neste caso de Salamanca, onde 80 jovens entre os 12 e 18 anos estiveram na Serra da Estrela, nos dia 17 e 18 de Novembro a plantar 5 mil sementes (bolotas). Um grupo de Lisboa já tinha dado, dia 18, início às sementeiras.

No dia passado dia 24 de Novembro, sucedendo ao Dia Ibérico da Floresta Autóctone (dia 23), alunos da Escola Frei Heitor Pinto, da Covilhã, e da Escola Secundária de Seia participaram em acções deste projecto.

Também elementos do Agrupamento 111 dos Escuteiros de Santarém já deram o seu contributo. Até ao momento já foram também já semeadas 11 mil e 400 bolotas de carvalho

No próximo dia 9 de Dezembro, antecedendo o Dia Internacional da Montanha (11 de Dezembro), realizar-se-á uma ampla plantação, à qual contará com mais de 100 montanheiros, provindos de clubes e associados da Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada (FPME), entre eles com elevada participação do Clube de Actividades de Ar Livre (CAAL); de grupos de escuteiros e de pessoas em nome individual. Por sua vez o Parque Natural da Serra da Estrela (ICN) cede seis mil plantas. A Força Aérea portuguesa disponibilizará um helicóptero para transportar estas 6 mil plantas (que correspondem a três toneladas de peso) a locais mais elevados, em áreas ardidas, para posterior plantação. Os carvalhos vão ser plantados em áreas como o Covão do Lameirão (a 1500 metros de altitude), Candeeira (1443 metros) e Lagoa dos Cântaros (a 1579 metros), locais de difícil acesso. Contudo nesse dia apenas serão plantadas pouco mais de mil carvalhos, recorrendo-se ao uso do piolet. Os que sobrarem ficam já nos locais para em data breve serem plantados.

A ASE refere que com esta iniciativa, iniciada formalmente em 3 de Novembro e que se estende até finais de Março, "pretende estabilizar os solos e colmatar os efeitos dos incêndios em áreas da Serra da Estrela situadas entre os mil e 400 e os mil e 600 metros de altitude, contribuir para minimizar os riscos da erosão, aumentar a capacidade de retenção e do armazenamento da água. A nível mais geral esta acção visa manter e fomentar a sustentabilidade dos recursos naturais e da biodiversidade, garantir a manutenção futura da actividade pastoril, melhorar a paisagem e, consequentemente, a promoção do turismo"

Espero também puder dar um pequeno contributo.

Imagem retirada do Clube de Montanhismo da Guarda
Algumas informações deste artigo foram vistas no blogue “O Cântaro Zangado

1 Comments:

Blogger ljma said...

Um milhão de obrigados por esta divulgação. Como dizes, uma monocultura de carvalhos não é uma coisa boa. Por isso, no próximo ano, daremos mais atenção a outras espécies autóctones como a bétula (ou vidoeiro) e a tramazeira, mantendo ainda assim uma forte componente de carvalho-negral. Refira-se que o Parque Natural da Serra da Estrela apoia esta iniciativa, tendo fornecido seis mil carvalhos jovens, que serão plantados no dia nove e em datas posteriores, em função das condições meteorológicas e da adesão de grupos como escolas, clubes de montanhismo, etc.
Mais uma vez, obrigado!

9:03 da manhã  

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