domingo, julho 30, 2006

Evereste 2006 : grande feitos e grandes tragédias!


As ascensões deste ano (realizadas até ao momento) ao Evereste, e que se concentraram do mês Abril até finais de Maio (período entre monções), acarretaram grandes feitos mas também grandes tragédias. Este ano, até ao momento, já mais de duas centenas de pessoas estiveram no topo do Evereste.

A nível de grandes façanhas, porventura a maior de todas tenha sido do neo-zelandês Mark Inglis, que foi o primeiro himalaísta com duas pernas artificiais a alcançar o cume do Everest (15 de Maio de 2006). Mark Inglis é um ex-investigador de Bioquímica que a partir de 1979 se tornou um profissional do montanhismo. Inglis foi atleta paraolímpico nas Olimpíadas de Sydney, conquistando a medalha de bronze na modalidade do ciclismo. Já em 2004 Inglis ascendera ao Cho Oyu, tornando-se, na altura, a segunda pessoa, na história do montanhismo, com dupla amputação, a ascender a uma montanha de mais de 8 mil metros.

Em 1982 Inglis sofreu um profundo revés durante a ascensão ao Mont Cook, na Nova Zelândia, quando, com o seu companheiro de cordada, Philip Doole, ficou retido durante 14 dias numa caverna de gelo (devido a uma forte tempestade). Como consequência foi forçado a amputar ambas as pernas (ao nível do joelho) por terem sofrido total congelamento.

A ascensão deste ano ao Everest também não foi se revelou nada fácil. No ABC (Advanced Base Camp) a 6 400 metros sofreu um acidente e uma das suas pernas artificiais quebrou-se. Foi efectuado um remendo provisório, até cerca de uma semana depois receber uma nova prótese. Por outro lado a expedição de Inglis foi envolta numa grande polémica, questionando-se a sua conduta ética relativamente à efectiva ajuda prestada (ou não) a um outro alpinista, o inglês David Sharp, a cerca dos 8500 m. Sharp veio a falecer, após mais de 40 alpinistas terem passado por ele sem lhe prestarem ajuda. Ver artigo

O japonês, Takao Arayama tornou-se em 17 de Maio de 2006 na pessoa mais velha a atingir o cume. Arayama contava com 70 anos e 225 dias. Porventura o mais curioso neste feito é que Arayama apenas se iniciou no montanhismo depois dos 50 anos de idade.
O sherpa (nepalês) Appa Sherpa ultrapassou o record (que já lhe pertencia) da pessoa que mais vezes ascendeu ao cume, perfazendo em 19 de Maio a sua 16ª ascensão com sucesso.
A título de curiosidade, Maxim Chaya, tornou-se o em 15 de Maio o 1º libanês a atingir o Evereste ; e Ana Luisa Boscarioli tornou-se a 1ª brasileira a chegar ao cume do Everest (pela face sueste - via clássica nepalesa), sendo que Helena (e Paulo) Coelho viram-se forçados a desistir por roubo do seu material.

De modo particular, para o mundo lusófono, a maior tragédia este ano no Evereste foi a morte, em 18 de Maio, do brasileiro Vítor Negrete (contava 38 anos) durante a descida da montanha, depois de ter se tornado o primeiro brasileiro a ascender ao tecto do mundo sem oxigénio, pela Face Norte (Tibete), nesse dia. Na expedição de Negrete estava também, o já citado inglês David Sharp. Admite-se que o facto de Negrete ter tomado conhecimento da morte de Sharp e de outros três membros da expedição, bem como o seu acampamento ter sido alvo de furto, tenham sido factores que contribuíram para o trágico desfecho final. Ver este artigo e este (antes citado). O corpo de Vitor restou do lado chinês da montanha, proibido de aceder de helicóptero, e teve que ser seu companheiro de expedição, Rodrigo Raineri, a subir a montanha para o enterrar junto ao campo 3 da Face Norte. Negrete que deixa mulher e dois filhos tinha conseguido pela primeira vez, o ano passado, atingir o cume do Evereste (dessa vez com recurso a oxigénio nos últimos 100 metros), junto com R. Raineiri.
Negrete, era a seguir a Waldemar Niclevicz (escalou seis 8 mil : everest [1995 e 2005], K2, Lhotse,... ; e os Seven Summits) o alpinista brasileiro de maior reputação na actualidade.
Os roubos de material efectuados nos acampamentos mais uma vez, e como já sucedeu noutros anos transactos, puseram seriamente em risco as vidas, e em alguns casos conduziram mesmo à morte, de diveros alpinistas.
Infelizmente o luto do alpinismo brasileiro não se ficou por aqui, pois há duas semanas atrás, a maior escaladora de Big Wall brasileira, Paula Nunes (por alguns considerada, mesmo, a maior alpinista brasileira pelo seu extenso currículo) também faleceu nos Estados Unidos.

Fonte da Foto

1 Comments:

Blogger José Leite said...

Interessantíssimo este post! Daria para mil e uma divagações filosóficas...
Este anseio que o Homem tem de se superar a si próprio, é louvável, legítimo e, até certo ponto, saudável. Mas... há limites para tudo. Quando há óbvias limitações físicas essa ânsia de ultrapassagem dos próprios limites não se encontrará já no limiar da obsessão? Esta ânsia de entrar no Guiness (por exemplo...) não terá algo de patológico, não conterá dentro de si, o gérmen do narcisismo elevado a níveis pouco recomendáveis?

Não haverá algo de semelhante com aquele que ambiciona os três minutos de fama, para se tornar "imortal"(?!!!) e depois comete uma "loucura" qualquer?

É óbvio que há que respeitar o alpinismo e o seu exemplo de superação, de luta do Homem face à Natureza hostil...mas... quando há limitações físicas graves, esse aparente "suicídio", só para almejar um pouco de "fama" (esse doping que faz correr candidatos a celebridade...), não será criticável?

A pergunta aqui fica. Julgo que abre pistas para amadurecimento e não pretende ser redutora ou castradora face ao espírito de "Ícaro" que reside no âmago de cada ser humano.

6:46 da tarde  

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