quinta-feira, março 09, 2006

Um Carnaval com muita neve e frio bem a condizer (I)


Amigos da Montanha- Vale Benasque (Pirinéus) - Carnaval 2006

Os Amigos de Montanha escolheram para a realização de actividades de índole invernal no Carnaval de 2006 uma esplêndida região agora totalmente mascarada por um espesso manto nevoso: a cordilheira dos Pirinéus.

Os Pirinéus, região de grandes desníveis e íngremes picos, são em qualquer altura do ano um excepcional espaço para a prática de actividades de montanhismo/alpinismo, atingindo o seu pico máximo das condições alpinas na estação do Inverno, quando a neve imprime uma luminosidade e um brilho extraordinário a estes imponentes espaços naturais.

Os Pirinéus destacam-se como a maior cordilheira ibérica, onde se contemplam magníficas paisagens em horizontes a perder de vista, num espaço repleto de grandiosas montanhas, de centenas de cumes superando a cota dos três mil metros, de vales glaciares imensos, de impressionantes desfiladeiros, e de inúmeras espécies de fauna (urso, veado, o lobo, lince ibérico, etc) e flora, muitas delas exclusivas em todo o planeta. Para se ter uma perspectiva da sua grandeza refira-se que nele caberiam cerca de 40 Parques da Peneda-Gerês.

Em concreto o local de acção escolhido pelos Amigos da Montanha foi o sempre fascinante Vale de Benasque, localizado nos Pirinéus Centrais. Este vale é também designado por “Vale Rei” por ser o de maior dimensão dos Pirinéus e nele se localizarem os seus picos mais elevados, dos quais sobressai o topo da cordilheira pirenaica, o Aneto (3404 metros). Dos 213 cumes com altitudes superiores a três mil metros da cordilheira pirenaica mais de cinquenta localizam-se no Vale de Benasque. Pela sua localização mais central permite-lhe preservar melhor os seus inúmeros elementos naturais: a fauna e flora, os glaciares, os lagos, os rios, etc.

Quinze elementos dos Amigos da Montanha partiram cerca das 23 horas de Sexta-feira (17/02/006) da sua sede em Barcelinhos para uma longa viagem rodoviária rumo ao Pirinéus Centrais.

A viagem estendeu-se por cerca de 14 horas devido à forte presença de chuva e neve ao longo do trajecto. Logo na passagem das serranias de Fafe já um espesso manto branco de neve cobria as estradas e a circulação passou a ser realizada num ritmo lento. Ao longo da viagem foi possível apreciar belos panoramas das paisagens naturais e rurais bem como das cidades lusas e espanholas envoltas sobe uma densa capa de neve.

Cerca das 13 horas (lusas) de Sábado chegou-se à ‘capital’ do montanhismo pirineico (também designada por “Chamonix dos Pirinéus”): a cidade de Benasque. Tomámos então conhecimento que em virtude da forte queda de neve que se vinha registando ao longo dos últimos dias o refúgio que era suposto o grupo ficar alojado, o Angel Orús (2095 metros), estava encerrado. Como tal, depois de almoçarmos, armamos as tendas no Camping Aneto. O resto da tarde foi dedicado a conhecer a cidade de Benasque. Lugares como a “Escuela Española de Alta Montaña”, a ´universidade´ dos alpinistas espanhóis, e que conta com um dos melhores rocódromos do mundo; ou a Barrabés, o maior armazém comercial de material de montanhismo em Espanha. Ao fim da tarde confeccionou-se o jantar e recolheu-se às tendas relativamente cedo, pois a despertar do dia seguinte seria ainda de alvorada. A queda de neve era cada vez mais frequente e com maior intensidade.


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Um Carnaval com muita neve e frio bem a condizer (II)

No dia seguinte, Domingo, a queda de neve persistia bastante pronunciada, tomou-se o pequeno-almoço e logo se partiu em direcção ao Hospital de Benasque (HB), uma edificação que remonta ao século XII e que serviu de abrigo desde a Idade Média até meados do século XX a peregrinos que atravessavam esta cordilheira. Foi depois convertida numa moderna e ampla Estância de Ski, abrangendo hotel e restaurante.

As carrinhas foram aparcadas cerca de três quilómetros antes do HB e a partir daí o percurso foi feito a pé. Já no HB devido à elevada espessura de neve macia foram usadas raquetes de neve para permitir a progressão no terreno. Passou-se pelo refúgio de La Besurta (1 920 metros) e continuou-se até ao refúgio de La Renclusa (2 140 metros), que foi atingido cerca das 13 horas (lusas). A espessura de neve era já tal a esta altitude que quase só se distinguia o telhado do refúgio que como tal se encontrava encerrado.

Foi acordado então que seis elementos do grupo passariam a noite num modesto abrigo situado nos arredores do refúgio La Renclusa para no dia seguinte, se as condições melhorassem, tentassem alcançar o pico do Aneto (3404 metros). Os restantes nove elementos desceram de novo em direcção ao La besurta e depois até ao Hospital de Benasque e prosseguiram depois até às carrinhas.

No dia seguinte, Segunda-feira, o grupo que tinha restado no abrigo de montanha contígua de La Renclusa intentou a ascensão ao pico do Aneto. O grupo ascendeu pelo Maciço de Maladeta até ao “Portillón Superior” (2 870 metros). Dali pode-se avistar o modelar Glaciar de Aneto, o mais emblemático da região. Contudo a elevadíssima espessura de neve bastante macia que se apresentava na zona não garantia as condições de segurança satisfatórias para que a progressão (mesmo equipados com raquetes de neve) no terreno nevado pudesse prosseguir, e então o grupo efectuou a descida de regresso. O outro grupo devotou o dia ao treino de ski de montanha.

O regresso a Portugal ocorreu cerca das 19.30 horas (lusas) e cerca das 07.30 h. de Terça-feira o grupo chegou à sede dos Amigos da Montanha em Barcelinhos.

A boa-disposição e o espírito de equipa foram ao longo dos dias a tónica dominante.

Participantes: Carlos Peixoto, Tozé Coelho, Abilio, Cadinha, Fátima, Fernando, Luisa, Marco, Nelita, Rui, Sá, Sousa, Toni, Valdemar, Zacarias